Harry Potter e a melancolia e nostalgia em a Pedra Filosofal

Harry Potter é infância. Felizmente fui o tipo criança que cresceu com Harry Potter, Rony e Hermione.

Nessas páginas conhecemos o mundo da magia pela primeira vez. Tudo tem gosto de novidade.

Decidi começar essa releitura depois que revi O Cálice de Fogo em um dia das minhas férias. Foi também em uma das férias que li todos os livros pela primeira vez. Parece uma realidade muito distante essa em que eu conseguia desligar de tudo para ficar horas lendo. Foi até engraçado pegar esse livro e perceber que nele tem um 6 circulado porque nessa época eu tinha poucos livros e numerava a ordem que eu os ganhava.

Esse é o sexto. Não lembro quais foram os cinco primeiros, mas é fundamental para a minha vida a importância de Harry Potter.

Sendo assim, além de nostalgia esse livro tem um gosto de melancolia. Harry Potter é uma criança sozinha, sem amigos, sem perspectiva e sem família então é muito tocante quando uma notícia chega do nada para mudar a vida dele. Quando foi a última vez que isso aconteceu com você?

Eu sinto que quando eu era mais nova isso era bem comum até: uma nova amizade, mudança de escola, descoberta de autores e músicas. Hoje a novidade parece meio distante porque estou em uma etapa da minha vida que tudo parece rotina. Sentir isso com o Harry me deu realmente saudades de ter algo incrivelmente novo na minha vida.

Essa leitura no começo do ano diz muito sobre o que eu espero de 2018: novidades que sejam quase tão gostosas como centenas de corujas entrando na sua casa com um cartinha de Hogwarts.

Depois da novidade, vem a confiança. Harry é uma criança ingênua, talvez as primeiras leituras que eu fiz do livro eu também era ingênua demais para perceber isso, mas a verdade é que Harry Potter é uma criança que confia e arrisca porque até certo ponto ele não tem muito a perder. Acho interessante em como a J.K consegue entrar na cabeça do Harry e acompanhar pequenas “paranoias”, algo que temos demais quando criança de transformar um problema simples em um fim do mundo. Em certo trecho ele acha que vai ser expulso de Hogwarts (a primeira de muitas) e a esperança dele é que ele consiga um trabalho com o Hagrid para, pelo menos assim, ficar próximo (risos).

É quase triste Harry Potter ter quase 20 anos e ainda não termos uma edição comentada e cheia de notas de rodapé evidenciando os pontos do primeiro livro que são importantes para todos os outros sete. Pensando nisso e na minha releitura eu destaque alguns pontos como quando Hagrid diz que “somente um louco tentaria assaltar Gringotes”; Dédalo Diggle aparece nesse volume; o isqueiro de prata que o Dumbledore usa quando chega a rua dos Alfeneiros e que será fundamental para a narrativa do Rony em Relíquias da Morte.

É nesse livro que temos um dos capítulos que considero mais triste: O espelho de Ojesed, isso porque a perspectiva do “e se” é algo que dói demais. E se Harry Potter tivesse sido um garoto normal com família? É muito desolador perceber que o que o Harry mais quer na vida é algo tão simples e trivial para a maioria de nós. O mundo da magia não é algo colorido e animador, parece que temos em proporção igual algo terrível, assustador e escuro. A maioria da história se passa em um castelo cheio de cantos assustadores com masmorra e fantasmas. Claro que nesse primeiro livro o foco não está isso porque é praticamente um livro infantil, mas sabendo bem o caminho da estória esses pequenos detalhes ficam evidentes e doloridos.

Meus planos era reler Harry Potter em inglês, mas de certa forma a minha memória afetiva me impede disso (até revejo os filmes em português) porque os meus personagens tem essas vozes, essas características e isso faz parte da leitura.

Existe um podcast chamado Harry Potter and the Sacred Text que trata o livro como um texto “sagrado” como a bíblia então cada capítulo do podcast é como um “estudo bíblico” em que eles comentam cada capítulo com alguma perspectiva. É interessante como Harry Potter virou um lugar de conforto para muito de uma geração e ver dessa forma é exatamente isso: tirar conforto dos trechos mais inesperados e saber que por mais que o mundo esteja caótico sempre teremos Hogwarts.

 

Trechos preferidos:

“Mas daquele momento em diante, Hermione Granger tornou-se amiga dos dois. Há coisas que não se pode fazer juntos sem acabar gostando um do outro, e derrubar um trasgo montanhês de quase quatro metros de altura é uma coisa dessas”


” – O que o senhor vê quando se olha no espelho?

– Eu? Eu me vejo segurando um par de grossas meias de lã.

Harry arregalou os olhos.

– As meias nunca são suficientes. Mais um Natal chegou e passou e não ganhei nem um par. As pessoas insistem em me dar livros”


“A boca de Hermione estremeceu e ela correu de repente para Harry e o abraçou.

– Hermione!

– Harry, você é um grande bruxo, sabe?

–  Não sou tão  bom quanto você – disse Harry, muito sem graça, quando ela o largou.

–  Eu! Livros! E inteligência! Há coisas mais importantes, amizade e bravura e, ah, Harry, tenha cuidado!”

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