A História Secreta de Donna Tartt

esse texto contém algumas informações e impressões sobre o livro A História Secreta jogados meio aleatórios. 

imagem original via @newoldstokk

A História Secreta foi m livro que despertou a seguinte vontade em mim: ser inteligente em níveis surreais (nível Donna Tartt).

Digo isso, não porque o enredo acontece em uma faculdade na qual alunos estudam grego, mas por causa da forma que Donna Tartt cria essa história cheia de referências a filosofia, música, teatro e um a milhão de livros. Não é essencial conhece-las, mas dá um gostinho a mais durante a leitura.

Além disso é muito surpreendente descobrir que ela começou a escrever esse livro com 19 anos. Este é o livro de estréia da autora vencedora do prêmio Pulitzer em 2014 pelo seu livro O Pintassilgo e desde das primeiras páginas ela mostra que não será uma escritora comum pois o livro tratará de um assassinato, mas sem muito mistério pois ela já conta quem morreu e quem matou.

Parece até clichê, mas não é sobre o acontecimento, mas sobre o caminho ate ele. Afinal, o que temos aqui são jovens ricos matando pessoas e isso não é comum. Esse grupo de amigos não foi criado ao acaso, pois todos fazem parte de uma turma exclusiva que estuda grego dentro da universidade e algumas outras matérias com o mesmo professor (sendo que este só dá aula para esse seis alunos).

O texto é narrado em primeira pessoa por Richard depois que ele larga a faculdade de medicina e decide estudar “letras” e seu modo de narrativa lembra o Nick do O Grande Gatsby porque ele é meio que o “pobre” no meio de gente rica relatando o que aconteceu. O interessante é que em certo momento ele está lendo este livro, mas diz que há trágicas semelhanças entre ele e Gatsby (pg.77 dessa edição).

A forma que Donna Tartt escreve é muito característica, até um pouco ácida porque esse narrador em primeira pessoa não é confiável, mas preza muito pelos detalhes durante todo o livro medindo bem o que ele vai dizer de certo personagem, mesmo que em páginas depois alguma ação contradiga o que ele queria nos convencer.

Nas últimas 50 páginas, depois de passar o livro todo querendo mais descrições do professor maluco que estimulou tudo isso que aconteceu Donna Tartt solta a seguinte descrição: “Julian é uma daquelas pessoas que pegam seus bom-bons favoritos numa caixa e deixam o resto“.

Em várias partes do livro é discutido a Beleza. Algo tão importante para os gregos, para a arte, mas o contrário de beleza não é algo simplesmente feio, mas algo que chega a ser aterrorizante. Então vemos como a beleza e o terror andam próximos, como muitas vezes o sofrimento é o caminho para construir algo belo, conforme o que é apresentado.

O livro começa com o narrador perguntando se existe, fora da literatura, “falha fatal”.  Algum dos nossos atos podem ser tão grandes ao ponto de dividir os acontecimentos da nossa vida? Richard faz essa pergunta consciente do que ele passou, em todo tempo, até os acontecimentos finais já relatado, ele mostra que tudo aquilo ainda tá uma bagunça na cabeça dele e até parece que nos contando, escrevendo, colocando em uma narrativa não é só uma forma de desabafo, mas uma organização, uma analise fria dos fatos.

Outros personagens também tratam questões sérias com muita frieza. Não são alunos que procuram “viver a vida”, isso também, mas de uma forma rude, sem empatia mesmo. Tanto que, em muitos momentos o carácter deles se misturam e lendo eu até pensei “pera ai, quem disse isso?” porque eles são fúteis, algo da natureza deles, não são pessoas fáceis e simpáticas, e não tem ambição para serem bons ou queridos. O que eles querem é retornar ao mundo grego, expandir o seus seres e chegar ao máximo perto dos deuses.

Algo que, em algum ponto da história, quase conseguem pois a primeira vista Richard os vê como seres maravilhoso, quase perfeitos e esse amor platônico é desconstruído porque as atitudes que eles tomam são horrorosas. Nessa narrativa não tem um momento de redenção, pelo menos não de todos os personagens, pois eles vão seguir as suas vidas com um peso tão grande e que não podem dividir apenas um com os outros.

Donna Tartt é uma autora que tem 3 livros publicados: A História Secreta, O Amigo de Infância e O Pintassilgo e todos eles publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

Durante e depois da leitura pesquisei um pouco sobre como o seu primeiro livro foi recebido, ví alguns vídeos e aqui estão alguns links interessantes:

. Primeiro perfil da autora feito em 1999 para a Vanity Fair. Na época ela só tinha publicado A História Secreta e fala um pouco sobre ele e o James Kaplan fala um pouco das similaridades do livro com a vida da autora. Destaque para o último parágrafo em que ela fala que pintassilgo é o pássaro preferido dela.

. Vídeo da Vevs 

. Glossário dos termos que aparecem em latim no livro para inglês 

. Book Drum de A História Secreta que é uma explicação da maioria das referências que aparecem no livro

. A Reader’s Guide for The Secret History

. Resenha no Washington Post feita na época do lançamento 

 

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