5 álbuns que combinam com uma verdadeira segunda

Hoje é uma clássica segunda em que eu sinto que deixei um pouco da minha vitalidade guardada em uma caixinha perdida que não acho, mas mesmo sem ela é preciso seguir o dia, viver e cumprir as responsabilidades. Não há muita alegria, mas também não é algo que chega a tristeza extrema. É um meio termo que tem características parecidas com a rotina, um pouco de desanimo e claro: uma boa vontade de dormir.

Pensando nesse sentimento que estou sentindo no momento, durante o dia, minha mente procurou algumas músicas para deixar o dia mais animado e para me animar mais ainda fiz uma lista (totalmente pessoal, obvio) de álbuns que me deram abracinhos musicais para sobreviver o dia de hoje:

Alvvays (2014) – músicas animadas que pra mim parecem a trilha sonora perfeita para o meu ensino médio. Desculpa a nostalgia, afinal, eu passo na frente da minha antiga escola todos os dias e bate uma saudade, mesmo que na época eu tenha achado um saco, ainda mais nas segundas que era aula dupla de matemática.

Músicas preferidas e escutadas várias vezes no dia de hoje: Adult Diversion, Archie, Marry Me e Party Police.

Crack-Up (2017) – o último álbum da banda Fleet Foxes me acompanha como trilha sonora para ler livros desde do mês do seu lançamento, mas também é o álbum que eu coloco quando chego em casa, deito na cama e descano o corpo. Eu não quero dormir, só quero deixar as energias do dia para trás para a partir desse momento aproveitar as horas restantes dos dias.

Músicas preferidas: as três primeiras do álbum PRECISAM ser escutadas em sequência, isso já faz o álbum ser incrível.

Transatlanticism (2003) – para começar a capa desse álbum é linda demais! De todas as capas maravilhosas dos álbuns do Death Cab For Cutie essa é a minha preferida e que já foi fundo de tela do celular. São muitos anos de amor por essa banda e por esse álbum já que ele contém a música The New Year, também conhecida como o hino pessimista para começar o ano BEM. É o tipo de álbum que faz eu me sentir ~em casa~ e com a sensação de que vai acabar tudo bem (em algum momento)

Músicas preferidas (para segunda): We Looked Like Giants, A Lack of Color.

My Wild West (2016) – segunda tem sido o dia para conversar e pensar em todos os sentimentos que a terceira temporada de Twin Peaks estão causam em mim. Todos os episódios, praticamente, tiveram uma participação musical especial e entre todas a que mais me marcou e que entrou para a minha lista de preferidos foi a música Wild West da Lissie. O álbum todo é muito gostoso de ouvir e essa música me lembra também Cidade dos Sonhos do Lynch.

Música preferida: Wild West que ficou mais bonita ainda na apresentação do Roadhouse

The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972) – Se esse álbum do Bowie não fizer a sua segunda ficar um pouco melhor acho que não há nada mais a fazer além de tomar um banho quente e cair nos braços de Morfeus. Eu lembro que esse foi o primeiro álbum do Bowie que eu peguei para ouvir for real e depois pensei que não precisava ouvir mais nada porque é um álbum que me satisfaz em todas as maneiras possíveis. Então ouvir ele do começo ao fim é um baita abraço, afinal, segunda é só o comecinho da semana e ainda tem muito pela frente. Bowie nos ajude.

Músicas preferidas: Lady Stardust, It Ain’t Easy

A História Secreta de Donna Tartt

esse texto contém algumas informações e impressões sobre o livro A História Secreta jogados meio aleatórios. 

imagem original via @newoldstokk

A História Secreta foi m livro que despertou a seguinte vontade em mim: ser inteligente em níveis surreais (nível Donna Tartt).

Digo isso, não porque o enredo acontece em uma faculdade na qual alunos estudam grego, mas por causa da forma que Donna Tartt cria essa história cheia de referências a filosofia, música, teatro e um a milhão de livros. Não é essencial conhece-las, mas dá um gostinho a mais durante a leitura.

Além disso é muito surpreendente descobrir que ela começou a escrever esse livro com 19 anos. Este é o livro de estréia da autora vencedora do prêmio Pulitzer em 2014 pelo seu livro O Pintassilgo e desde das primeiras páginas ela mostra que não será uma escritora comum pois o livro tratará de um assassinato, mas sem muito mistério pois ela já conta quem morreu e quem matou.

Parece até clichê, mas não é sobre o acontecimento, mas sobre o caminho ate ele. Afinal, o que temos aqui são jovens ricos matando pessoas e isso não é comum. Esse grupo de amigos não foi criado ao acaso, pois todos fazem parte de uma turma exclusiva que estuda grego dentro da universidade e algumas outras matérias com o mesmo professor (sendo que este só dá aula para esse seis alunos).

O texto é narrado em primeira pessoa por Richard depois que ele larga a faculdade de medicina e decide estudar “letras” e seu modo de narrativa lembra o Nick do O Grande Gatsby porque ele é meio que o “pobre” no meio de gente rica relatando o que aconteceu. O interessante é que em certo momento ele está lendo este livro, mas diz que há trágicas semelhanças entre ele e Gatsby (pg.77 dessa edição).

A forma que Donna Tartt escreve é muito característica, até um pouco ácida porque esse narrador em primeira pessoa não é confiável, mas preza muito pelos detalhes durante todo o livro medindo bem o que ele vai dizer de certo personagem, mesmo que em páginas depois alguma ação contradiga o que ele queria nos convencer.

Nas últimas 50 páginas, depois de passar o livro todo querendo mais descrições do professor maluco que estimulou tudo isso que aconteceu Donna Tartt solta a seguinte descrição: “Julian é uma daquelas pessoas que pegam seus bom-bons favoritos numa caixa e deixam o resto“.

Em várias partes do livro é discutido a Beleza. Algo tão importante para os gregos, para a arte, mas o contrário de beleza não é algo simplesmente feio, mas algo que chega a ser aterrorizante. Então vemos como a beleza e o terror andam próximos, como muitas vezes o sofrimento é o caminho para construir algo belo, conforme o que é apresentado.

O livro começa com o narrador perguntando se existe, fora da literatura, “falha fatal”.  Algum dos nossos atos podem ser tão grandes ao ponto de dividir os acontecimentos da nossa vida? Richard faz essa pergunta consciente do que ele passou, em todo tempo, até os acontecimentos finais já relatado, ele mostra que tudo aquilo ainda tá uma bagunça na cabeça dele e até parece que nos contando, escrevendo, colocando em uma narrativa não é só uma forma de desabafo, mas uma organização, uma analise fria dos fatos.

Outros personagens também tratam questões sérias com muita frieza. Não são alunos que procuram “viver a vida”, isso também, mas de uma forma rude, sem empatia mesmo. Tanto que, em muitos momentos o carácter deles se misturam e lendo eu até pensei “pera ai, quem disse isso?” porque eles são fúteis, algo da natureza deles, não são pessoas fáceis e simpáticas, e não tem ambição para serem bons ou queridos. O que eles querem é retornar ao mundo grego, expandir o seus seres e chegar ao máximo perto dos deuses.

Algo que, em algum ponto da história, quase conseguem pois a primeira vista Richard os vê como seres maravilhoso, quase perfeitos e esse amor platônico é desconstruído porque as atitudes que eles tomam são horrorosas. Nessa narrativa não tem um momento de redenção, pelo menos não de todos os personagens, pois eles vão seguir as suas vidas com um peso tão grande e que não podem dividir apenas um com os outros.

Donna Tartt é uma autora que tem 3 livros publicados: A História Secreta, O Amigo de Infância e O Pintassilgo e todos eles publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

Durante e depois da leitura pesquisei um pouco sobre como o seu primeiro livro foi recebido, ví alguns vídeos e aqui estão alguns links interessantes:

. Primeiro perfil da autora feito em 1999 para a Vanity Fair. Na época ela só tinha publicado A História Secreta e fala um pouco sobre ele e o James Kaplan fala um pouco das similaridades do livro com a vida da autora. Destaque para o último parágrafo em que ela fala que pintassilgo é o pássaro preferido dela.

. Vídeo da Vevs 

. Glossário dos termos que aparecem em latim no livro para inglês 

. Book Drum de A História Secreta que é uma explicação da maioria das referências que aparecem no livro

. A Reader’s Guide for The Secret History

. Resenha no Washington Post feita na época do lançamento 

 

A Noite Devorou o Mundo de Pit Agarmen

É muito simples pegar esse livro e dizer que é mais uma história sobre apocalipse zumbi. Não desmerecendo o gênero, sou fã e já li alguns livros sobre o assunto, mas esse livro atingiu o público que esta “fora da curva” nesse gênero.

O livro foi lançado no Brasil em 2014 pelo autor Pit Agarmen, pseudônimo do autor Martin Page. Eu já li alguns outros livros dele e peguei esse de troca no skoob quando lançou, mas só agora resolvi sentar a bundinha e passar algumas horas em companhia desse personagem.

O protagonista relata através de entradas (como se fosse um diário) como é a sua vida de sobrevivente depois de um apocalipse zumbi. Ele acorda de ressaca na casa de uma amiga e percebe que o mundo tá um caos e que aqueles filmes de ficções do Romero, por algum motivo, tá acontecendo na vida real.

Mas o foco não é os zumbis. Essa narrativa é um relato sobre a solidão, sendo ela tão profunda que até o toque nessas criaturas repulsivas em algum momento se torna desejável por ser uma ligação física com um ser, mesmo que não seja vivo por definição.

O autor faz o relato de uma situação teoricamente inconcebível, porém parece próxima para quem pelo menos uma vez já se sentiu sozinho nesse mundão. Só que a diferença é que ele realmente tá bem só no meio de Paris e sem água quente e banhos quentes são partes essenciais para a cura da tristeza.

A minha única ressalva com esse livro é que ele é muito curto. São aproximadamente 200 páginas de solidão, mas eu acompanharia esse personagem por mais um bom tempo.

Em alguns pontos a ambientação da narrativa me lembrou Ensaio Sobre a Cegueira e a epigrafe do livro é um trecho do Fernando Pessoa que diz “Somos dois abismos frente a frente” e nos agradecimento o autor diz que esse livro não seria possível sem a existência do The Last Man da Mary Shelley. É satisfatório e prazeroso ler um autor contemporâneo e perceber suas referências em autores que também admiro.

Gosto de como a melancolia e a solidão reúne alguns dos meus livros preferidos, sendo um deles outro do mesmo autor chamado A Libélula dos Seus Oito Anos. Ainda não sei se esse entrará para essa lista também porque os meus favoritos se formam com o tempo e com a memória que trago da leitura, mas já posso dizer  que esse quase ensaio sobre a solidão é uma leitura das boas e que já recomendo.

A Noite Devorou O Mundo de Pit Agarmen traduzido por  Carlos Nougué foi publicado em 2014 pela Editora Rocco.